Até eu, imaginem!
(escrito por Kaplan)
Existem momentos na vida da
gente em que, sem ter planejado nada, acabamos nos tornando uma espécie de
cupidos. Sim, Cupido, o deus do amor dos gregos antigos, aquele que acertava
suas flechas em duas pessoas, fazendo com que o amor surgisse entre elas.
Estou falando isso porque, sem
querer, acabei me tornando um cupido para um amigo meu, o Renan. Solteiro, mas
pensando em casamento, ele se aventurou a comprar um lote num desses
condomínios que existem nas cercanias da capital. E achou que poderia levantar
uma bela casa para abrigar a noiva que ainda não tinha, mas iria ter, afinal
ele era um cara bonito, tinha um trabalho que lhe rendia uma boa soma ao final
do mês, era bastante sociável e conhecia várias garotas com as quais poderia,
talvez, iniciar um namoro e quem sabe dali não sairia um belo casamento, com
filhos que poderiam correr no gramado, nadar na piscina... tudo isso ele
sonhava.
Entre o sonho e a realidade,
algo se interpunha: precisava de um arquiteto e de um engenheiro para construir
a casa que desejava.
E foi assim que ele, numa
conversa de botequim, me perguntou se eu teria as pessoas certas para ajudá-lo
a transformar seu sonho em realidade. Falou com a pessoa certa, pois eu
conhecia tanto um arquiteto quanto uma engenheira civil.
Apresentei-o, o arquiteto não
demorou muito a apresentar um projeto que ele aprovou e aí entrou, então, o
momento em que Carla, a engenheira civil que eu conhecia, iria fazer os
cálculos necessários para levantar a edificação.
Dessa maneira, tão logo os
cálculos ficaram prontos, ela providenciou um mestre de obras e alguns
pedreiros seus conhecidos e a casa começou a ser erguida.
Excelente profissional, Carla
acompanhava semanalmente as obras. Não houve atraso, ela sabia que os
profissionais que indicara eram sérios e competentes. Nos seis meses em que
eles trabalharam, ela e o Renan se encontraram várias vezes, discutindo
detalhes, escolhendo os materiais para o piso, pensando nos
armários.
E foi assim que Renan começou a
olhar a engenheira com outros olhos. Reparou nos belos olhos, na boca sensual.
Na educação, na simplicidade, no interesse dela, parecia que estava construindo
a sua própria casa, e não a dele.
Com a casa pronta, ele a
convidou para a inauguração. Chamou alguns amigos, eu inclusive, e ficamos
todos admirados da beleza da casa e do quintal, e do jardim. Tudo perfeito, ele
não se cansava de receber elogios e apresentar a Carla como a grande
responsável pela bela obra.
Bem, a comemoração terminou,
todos foram saindo, eu fiquei até o fim, porque ia dar carona à Carla . Então,
em um momento, ficamos só nos três, todos já tinham saído.
- Carla, eu não tenho como te
agradecer. Você foi realmente de uma excepcional competência. Vou te indicar
para muitos amigos, não vai faltar trabalho pra você!
E aí aconteceu a flechada do
cupido. Ele me deu um abraço, agradecendo pela indicação e em
seguida foi abraçá-la... e beijou-a! Ela levou um susto, não esperava por
aquilo. Ficou vermelha, meio envergonhada, então a puxei pelo braço, entramos no
carro e voltamos para a cidade, deixando o Renan feliz da vida.
Ela me perguntou o que tinha
sido aquilo.
- Ele estava tonto, não é?
Fiquei assustada, nunca tive um agradecimento como esse!
- Pode ser que estivesse meio
alto. Mas foi sincero, ele me confessou outro dia que estava gostando mais da
mulher Carla do que da engenheira. E olhe que ele só tinha elogios pra
engenheira.
- Ele se apaixonou por
mim?
- Acho que sim, aliás, tenho
certeza. Você tem algo contra?
- Não... quer dizer, sei lá.
Foi tão inesperado, preciso colocar minha cabeça no lugar.
Deixei-a em casa e telefonei
pro Renan.
- Olha, você a deixou
impressionada. Se está realmente interessado, demonstre isso, mande flores,
bombons, sei lá, mostre que deseja conhecê-la melhor!
E foi assim que tudo
aconteceu.
Flores foram enviadas, e ela se
divertiu jogando-as em seu corpo nu. Cinemas foram frequentados, beijos foram
dados... e eles estão vivendo felizes como em todas as histórias de amor, na
casa que eles construíram.
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